Por
Andreia Tairon
A
escola não respeita as diferenças entre os alunos, massificando-os, mas como
dar conta de cada indivíduo se somos colocados para atender massas? Se nossos
governantes estão preocupados com uma educação quantitativa e não qualitativa?
Se alunos são meros números que integrarão gráficos simulando sucesso na
expansão do ensino?
Perrenoud
coloca nas mãos dos professores (sempre os professores!), a missão de vencer o
fracasso escolar por meio de uma pedagogia diferenciada, mas que tipo de
pedagogia teria o poder de desconstruir estruturas tão bem engendradas que
visam manter as elites no poder e o povo se conformando com migalhas?
Se
a área da saúde não está bem, a sociedade não ataca o médico, ela reclama do governo
que não investe na saúde. Nunca ouvimos falar em fracasso hospitalar… Se a área
da segurança não está bem, as pessoas também reclamam do governo, que não
valoriza nossos policiais… mas se a área da educação não vai bem, não é o
governo apontado como culpado, apontam diretamente para o professor. Por que
tantos pais sentem raiva dos professores? Por que os mesmos já vem armados para as reuniões escolares?
Concordo
que aulas ministradas por professores de perfil autoritário e que visa apenas
cumprir o programa, não instigam ninguém, mas ainda assim, o professor não pode
ser atacado como sendo responsável pelo fracasso escolar, pois até mesmo o
profissional que apresenta este perfil, está fazendo o que julga ser o melhor,
e da melhor forma, dentro de sua visão e possibilidades.
O
professor está inserido num sistema maior que o sobrecarrega, que lhe
desestimula em diversos sentidos, e como já foi dito, o professor é o produto
mais barato do mercado…
Particularmente
acredito em pedagogias que estimulem a autonomia, como a empreendida pela
escola da Ponte, em Portugal. Uma escola sem
turmas, que não segue o sistema padrão de seriação/ciclos adotado pelas
instituições de ensino do país.. A escola não tem paredes internas para separar
os alunos de acordo com a idade ou série. As crianças e os adolescentes
compartilham o mesmo espaço físico, um grande galpão, muito bem estruturado
para pesquisa e de fácil acesso aos alunos. Esses, por sua vez, se agrupam de
acordo com a área de interesse a ser pesquisada, independente da faixa etária.
Responsabilidade e solidariedade são enfatizadas no ambiente escolar, onde a
aprendizagem significativa se da por meio de um relacionamento interpessoal
autêntico e afetuoso. Os alunos e profissionais não são vistos como máquinas de
produção de conhecimento, mas como pessoas normais em busca de um caminho
seguro, embora conscientes de sua transformação constante.
Mas, uma escola nesses moldes seria aceita dentro de nossa
realidade? De que forma poderíamos apostar neste tipo de pedagogia, uma vez que
estamos amarrados pelos ditames dos governantes que nos sobrecarregam com
burocracias inúteis e nos tiram tempo de pensar no que realmente importa?…e
quando se constata o fracasso escolar…a culpa será sempre nossa…
Talvez um caminho seria trazer a comunidade, de alguma forma
para dentro da escola. Para que vissem a qualidade do trabalho que realizamos
com seus filhos e as dificuldades que encontramos, assim, teriam meios de
construir uma opinião mais embasada a respeito dos educadores e seu trabalho,
tornando-se menos hostis e mais colaborativos. A escola
deve desconstruir a imagem de que só chama os pais para reclamar de seus filhos
(será que vem daí a hostilidade por parte dos pais?).
O professor de filosofia Cesar Mangolin, em seu blog, diz que
qualquer esforço para mudar o mundo por meio da educação seria uma perda de
tempo, uma vez que o que deve realmente ser mudado é o sistema. Concordo, sim,
com a necessidade de uma revolução nesse sentido, ainda que a revolução teórica
disseminada por professores bem intencionados não tenha muito efeito, acho
válida sua disseminação, pois através dela podemos despertar a consciência de
cada aluno, tornando-os dóceis não a exploração, a adequação a um sistema
opressor travestido de democrático, mas a ideias inovadoras, libertárias, a
novos modos de enxergar o mundo, de se relacionar e respeitar o próximo, para
que tenhamos um mundo melhor…e um mundo melhor, com certeza, será bem diferente
de tudo o que temos hoje!
Texto disponibilizado pela autora